Por Prof. Dr. Ricardo Nitrini
Quando uma pessoa idosa começa a manifestar alterações de memória ou do desempenho em atividades que antes realizava bem, é necessário que o indivíduo vá ou seja conduzido a atendimento médico para diagnóstico e tratamento.
Pode acontecer que devido à falta de informações ou à impressão equivocada de que não há nada a fazer quanto ao declínio cognitivo do idoso, o paciente e seus familiares não procurem atendimento médico. Esta ação é incorreta devido aos seguintes fatos:
1) nas doenças degenerativas, entre as quais a doença de Alzheimer é a mais frequente, o médico pode utilizar medicamentos, que embora não curem a doença, podem melhorar o desempenho cognitivo e o comportamento social quando este se encontra alterado. Além disso, o médico orientará o indivíduo e os familiares quanto às melhores maneiras de enfrentar os problemas que certamente ocorrerão;
2) mesmo que uma doença degenerativa seja a principal causa do declínio, podem haver outras doenças associadas que agravam os sintomas e que podem ser tratadas. Entre estas são comuns, a síndrome da apneia obstrutiva do sono, hipovitaminoses, hipo ou hipertireoidismo e depressão, por exemplo. O tratamento da apneia ou do hipotireoidismo pode melhorar de modo evidente o desempenho cognitivo do paciente, embora a doença degenerativa continue a piorar e os sintomas possam reaparecer depois de algum tempo;
3) por fim, e muito importante, existem doenças que causam demência que podem ser reversíveis, se o diagnóstico e o tratamento forem realizados em tempo. Alguns estudos observaram demências reversíveis em mais de 10% dos casos que procuraram atendimento.
Causa muito importante é o declínio cognitivo da depressão, que pode simular uma demência degenerativa e ser tratado com sucesso.
Alguns medicamentos podem causar déficit de atenção e de memória e quando suspensos há melhora cognitiva parcial ou completa. Remédios com efeito anticolinérgico, como os utilizados para reduzir incontinência urinária ou cólicas, estão entre os principais.
Processos expansivos intracranianos como tumores benignos podem causar demência potencialmente reversível. Outro tipo de processo expansivo é o hematoma subdural que se forma entre o osso do crânio e o cérebro e comprime o cérebro progressivamente. O hematoma forma-se depois de um trauma, que no idoso pode ter sido até pouco importante (como cair sentado sem bater a cabeça, por exemplo) e tende a aumentar de volume durante semanas ou poucos meses. Com o tratamento clínico ou cirúrgico, o indivíduo retorna à sua condição habitual.
Hidrocefalia a pressão normal é outra condição reversível em que se manifestam, além dos transtornos cognitivos e comportamentais, dificuldade de caminhar e urgência/incontinência urinária. O diagnóstico depende da presença desses sintomas e de dilatação dos ventrículos cerebrais nos exames de imagem. Realiza-se punção lombar para a coleta de líquor seguida de observação para verificar se há melhora da marcha. Quando a marcha melhora, o diagnóstico é mais seguro e o tratamento cirúrgico, com colocação de uma válvula que deriva o líquor do interior dos ventrículos cerebrais para o peritônio, pode ter resultado excelente.
Nos últimos anos têm sido descritos casos de demência rapidamente progressiva causados pela presença no sangue de anticorpos contra neurônios cerebrais. Diagnóstico e tratamento adequados podem reverter o processo nestas encefalopatias imunomediadas.
Outras causas menos frequentes de demência reversível inclui as vasculites do sistema nervoso que podem estar associadas a doenças reumáticas e intoxicações por metais pesados.
Em todos os casos de demência são realizados exames de sangue e de neuroimagem para excluir uma doença reversível.