No dia 07 de junho recebemos a notícia de que a agência americana FDA aprovou uma medicação nova (aducanumab – nome comercial Aduhelm) para o tratamento da doença de Alzheimer. Isso é muito animador, pois é uma medicação que trata a doença de uma forma diferente das disponíveis no mercado (ela remove proteinas tóxicas que se acumulam no cérebro de pessoas com Alzheimer – chamadas beta amiloide – e por isso têm o potencial de mudar a evolução da doença, algo que os tratamentos atuais não são capazes de fazer). É animador também pois a última medicação aprovada para o tratamento da doença de Alzheimer foi a memantina, em 2003.
Mas apesar a notícia ser boa, há algumas questões e problemas que fazem com que alguns cientistas tenham ressalvas. Vou listá-las adiante.
1. Os estudos clínicos mostraram que a medicação elimina a Beta amiloide do cérebro, mas se isso causa algum benefício clínico não foi claramente demonstrado por esses estudos. E a empresa que produz o aducanumab ainda tem que comprovar nestes próximos anos que a medicação traz melhoras como impedir que a doença progrida ou que reduza significativamente a velocidade de progressão da doença. Essa preocupação decorre do fato de que estudos anteriores com medicações que eliminavam a Beta amiloide não foram capazes de mostrar esse tipo de melhora;
2. Ainda não está claro para quais pessoas com Alzheimer essa medicação será indicada. Mas provavelmente (considerando estudos anteriores), ela só vai ser eficaz em pessoas que têm Alzheimer *muito* leve ou que têm problemas de memória mas ainda não foram diagnosticadas com Alzheimer;
3. O preço estimado da medicação nos EUA será de 56 mil dólares por ano, o que vai limitar muito o acesso da medicação. Não sabemos quanto irá custar aqui no Brasil;
4. O aducanumab – como qualquer medicação – tem possíveis efeitos colaterais. Os que mais preocupam são a ocorrência de Inchaço em partes do cérebro e micro sangramentos. Esses são outros motivos que tornam a comprovação da eficácia clínica da medicação tão importante;
5. Independentemente da aprovação pela FDA, a ANVISA precisa aprovar a medicação (e não sabemos quando e se isso vai acontecer). Só com a aprovação da ANVISA é que a medicação poderá ser comercializada no Brasil.
Por Dr. Leonel Takada 08.06.2021